Depois da reportagem do canal alemão ARD em 2014 foi a vez do chamado relatório McLaren, encomendado pela Agência Mundial Antidoping, divulgar as provas de um sistema de dopagem de Estado, levado a cabo pela Rússia.
As provas mostram que, desde os Jogos Olímpicos de Sochi, 8000 amostras de atletas foram destruídas por ou com a conivência dos serviços secretos.
A Rússia organizou também os Campeonatos do Mundo de Atletismo em 2013, os de natação em 2015 e os de esgrima em 2014 e 2015. A manobra durou cinco anos.
“O sistema entrou em funcionamento após a deceção das autoridades russas quanto ao número de medalhas dos atletas do país nos Jogos Olímpicos de Inverno em Vancouver, em 2010 e funcionou até agosto de 2015”, revela o relator Richard McLaren.
De acordo com o relatório, o sistema funcionava com destruição, falsificação ou ocultação, três métodos utilizados, por vezes, em simultâneo, da seguinte forma:
1. Antes dos jogos, os atletas forneciam amostras de urina, quando ainda não tinham ingerido as drogas para aumentar o rendimento desportivo;
2. As autoridades russas guardavam-nas no frigorífico;
3. A seguir, os atletas retomavam as drogas ilícitas;
4. Durante os jogos, os atletas eram obrigados a submeter-se a recolha de amostras de urina, através do controlo oficial independente;
5. As urinas eram desviadas do laboratório, durante a noite, por um esconderijo existente entre as salas e levadas por um agente do FSB, disfarçado de canalizador.
6. As tampas dos recipientes eram removidas de forma a não quebrar o selo e a urina contendo substâncias dopantes era substituída pela recolhida aos atletas antes dos jogos e sem vestígios de droga.
7. O frasco, contendo já uma urina limpa, voltava ao laboratório, onde o líquido seria, posteriormente, testado.
O relatório McLaren identifica 30 modalidades desportivas gangrenadas por este sistema, entre as quais o Atletismo, a Halterofília, a Luta, a Canoagem, o Ciclismo, a Patinagem e, mesmo, o Futebol, entre outros.
Segundo o relator, o documento não evoca as sanções a aplicar à Rússia:
“A minha tarefa, o meu mandato, era para investigar e fornecer um relatório. Para encontrar factos, não era fazer recomendações e eu não fiz nenhuma. Não há recomendações no relatório. As informações constam do documento para que outros leiam, absorvam e decidam. Não me compete fazer recomendações e não as fiz”, afirma Richard McLaren.
Na expetativa da decisão do Comité Olímpico Internacional e face aos apelos à exclusão dos atletas russos dos Jogos Olímpicos do Rio, o Kremlin denuncia uma ingerência política no desporto e evoca o cenário de uma nova guerra fria – desta vez desportiva.