Mais de 230 famílias, englobando cerca de um milhar de pessoas, podem vir a ser despejadas esta semana de um edifício abandonado no centro da cidade de São Paulo, no Brasil. O edifício foi ocupado por pessoas “sem teto” já há 10 anos, que o recuperaram e voltaram a tornar habitável, inclusive com luz e água, criando o que hoje conhecida como a “comunidade Mauá” e que integra o Movimento Sem Teto do Centro (MSTC)
No final de julho, na sequência de um processo judicial para recuperar a posse do prédio que estará a ser negocviado com o município, os ocupantes clandestinos foram notificados com uma ordem de despejo.
A ordem viria a ser suspensa no início de outubro por outro juiz paulista, mas apenas por 30 dias e esse prazo está a acabar. Esta semana.
Os residentes da “comunidade Mauá” estão de novo em risco de voltar a ficar sem teto. O desejo do condomínio clandestino do antigo hotel Santos-Dumond é conseguir o direito de habitação no edifício.
A coordenadora dos residentes no prédio conta que “a proposta desde o inicio é transformar o imóvel em moradia para famílias de baixos rendimentos”, tendo em conta, claro, as mais de 200 famílias que ali vivem. “Esta propriedade esteve abandonada por 17 anos, somou dívidas fiscais. As pessoas precisavam de uma casa e foi por isso que a ocuparam”, explicou Ivaneti Araújo.
Entre os cerca de 1000 residentes neste prédio com porta na rua Mauá, encontra-se a sexagenária Teresa Maria. “Eu não tinha forma de continuar a pagar um aluguer. Vim para aqui. Tanto prédio por aí vazio e nós aqui podíamos ter uma moradia digna, a pagar uma quantia que pudessemos e que para mim seria a água, a luz e o IPTU (IMI)”, admite.
Um outra residente, Solange Barbosa, vive no antigo hotel Santos-dumond com o marido e admite estar recetiva à solução proposta pelo município de ser realojada. “Queremos sair daqui para melhor. Um apartamento nosso. Ou ficar aqui. Reformámos e pagámos por isto aqui onde estamos a morar. Queremos pagar a nossa água, a luz, o gás, o nosso condomínio. Nós não queremos morar de graça”, garante Solange.
A decisão pertence às autoridades de São Paulo, onde em 2016 já existiam 16 mil pessoas sem abrigo (podem vir a ser mais mil) e, de acordo com o último levantamento da Fundação João Pinheiro, existe também um défice de mais de 620 mil habitações apesar de o município ter identificado no ano passado dois milhões de metros quadrados de imóveis “não utilizados”, “subutilizados” ou “não edificados.”