Os militantes do grupo Kamuina Nsapu intensificaram as ações violentas na região sul do país após as tropas do Governo terem abatido o seu líder, que não reconhecia as autoridades de Kinshasa nos territórios que controlava.
A milícia é suspeita de estar por trás do sequestro e assassinato dos dois funcionários das Nações Unidas e da morte de 39 polícias no fim-de-semana.
Nos últimos meses, desde o início da insurgência, mais de 400 pessoas foram mortas. A ONU dá conta da existência de dez valas comuns na região, e 200 mil residentes terão já abandonado as suas casas.
A violência não se limita a Kasai. Em todo o país, as últimas semanas têm sido marcadas por conflitos, muitos deles étnicos.
"A situação é dramática", comenta Gesine Ames, observadora da Rede Ecuménica da África Central, uma associação de organizações religiosas alemãs que trabalha em conjunto com igrejas e grupos da sociedade civil.
"O Presidente Joseph Kabila não faz qualquer esforço para enviar o seu exército e proteger realmente a população nos pontos problemáticos. Pelo contrário, alimenta o conflito", critica.
O Governo congolês anunciou esta quarta-feira (29.03.) que vai investigar a morte dos dois especialistas da ONU e do seu intérprete. Três cidadãos congoleses que acompanhavam a missão de investigação em Kasai continuam desaparecidos.
Citado pela agência de notícias EFE, o exército garante que os ataques contra a milícia Kamuina Nsapu, em Kasai, vão continuar até que todos os membros se rendam.
Crise política
Na capital, Kinshasa, agrava-se a crise política. Na terça-feira, houve protestos e confrontos entre a polícia e manifestantes, depois do fracasso das negociações entre o Governo e a oposição.
Sob a mediação da Igreja Católica, as partes procuravam implementar um acordo para a transição política pacífica no país, enquanto o Presidente Kabila se mantém no poder após o seu mandato ter terminado oficialmente em dezembro. Mas a Igreja Católica abandonou as negociações, denunciando falta de vontade e incapacidade dos responsáveis políticos. "Normalmente a pressão religiosa na RDC é bastante forte e tem um impacto. Mas a situação atual é desesperante. Voltámos a uma política de pequenos passos", diz Natalie Ansorg.
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Violência aumenta na República Democrática do Congo
A especialista em assuntos africanos no Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), em Hamburgo, considera que o acordo firmado entre o Presidente Kabila e a oposição para formar um Governo de transição, em dezembro, deve continuar a servir de base para as negociações. Mas tem sido difícil chegar a um entendimento para a transição política.
A oposição lança apelos à população para sair à rua em protesto, a 10 de abril, numa marcha contra o fracasso na implementação do acordo e a Presidência de Kabila.
O congolês Denis Kadima, diretor do Instituto Eleitoral para a Democracia Sustentável em África (EISA), com sede na África do Sul, considera que o atual vazio de poder é perigoso: "A RDC já está em guerra civil. Temos de evitar um genocídio, ainda vamos a tempo", avisa.
O papel da comunidade internacional
Natalie Ansorg, do Instituto GIGA, pede que a comunidade internacional aumente a pressão sobre as autoridades congolesas para a apresentação de um calendário eleitoral. Segundo a especialista, empresas multinacionais e membros do Governo deveriam ser sancionados.
"É preciso impor sanções económicas. Mas para os lobistas em Bruxelas e Washington, os sacrifícios são demasiado grandes", refere.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas adiou a votação da renovação do mandato da missão de paz na RDC, que deveria ter acontecido esta quarta-feira. Segundo a agência de notícias France Presse, os Estados Unidos, que assumem a presidência do Conselho em abril, pretendem rever o desempenho e reduzir os custos das missões de paz da ONU em todo o mundo.
A MONUSCO não foi referida em particular, mas a França e outros países já alertaram para os riscos de reduzir a missão na RDC. O país deverá realizar eleições antes do final do ano, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu um ligeiro aumento dos agentes da polícia na missão.