Entre 1961 e 1974, Portugal, onde vigorava um regime ditatorial, levou a cabo guerras coloniais em três frentes de combate. Segundo números oficiais, ao chegar-se a 1974 - ano em que foram mobilizados 150 mil efectivos militares para o esforço de guerra em África -, já havia treze anos que a guerra durava em Angola, onze anos na Guiné e dez em Moçambique. Vejam-se alguns dados para memória presente e futura:
- A guerra sorveu entre 7 a 10% da população portuguesa e mais de 90% da juventude masculina. Ainda em termos de gastos humanos, durante os treze anos de guerra, morreriam mais de 8 mil homens e ficariam feridos ou incapacitados cerca de 100 mil portugueses.
- Segundo dados do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), morreram de várias causas 8.831 militares portugueses, dos quais 4.027 em combate, respectivamente 23% do contingente "metropolitano" e 77% dos soldados recrutados nas próprias colónias
- Das quase nove mil baixas das Forças armadas portuguesas, que representavam 1 % do número total de combatentes nos três teatros de guerra, 3.455 ocorreram em Angola, 3.136 em Moçambique e 2.240 na Guiné.
- A quase totalidade dos mortos – mais especificamente 8.290 dos 8.831 - pertenciam ao Exército, 346 eram elementos da Força Aérea e 195, da Marinha de Guerra.
- Ao número de combatentes mortos, deve-se acrescentar as vítimas mortais de civis brancos e negros, tanto entre os guerrilheiros dos movimentos de libertação como entre a população civil. Mais de mil civis portugueses foram mortos, mais de metade dos quais nos massacres perpetrados pela UPA, em 1961, em Angola, enquanto o número mínimo de mortos africanos terá totalizado os cem mil.
- Por outro lado, as guerras coloniais provocaram ferimentos e deficiências físicas em cerca de vinte mil militares portugueses, dos quais 5.120 com grau superior a 60 por cento. Entre os africanos, não existe contabilização, mas pode-se aventar a hipótese quase certa de que o número foi muito superior.
- Relativamente aos que foram psicologicamente afectados pela guerra, embora o número seja contestado, os psiquiatras Afonso de Albuquerque e Fani Lopes contabilizaram 140.000.
- Além disso, as guerras em Angola, na Guiné e em Moçambique sorveram avultados meios financeiros, calculando-se que, durante os treze anos, uma média de 33% do Orçamento do Estado tivessem sido canalizados para a «defesa» e que, nos anos 60, foram mesmo ultrapassados os 40%.
No final de 1964, Portugal já mantinha nos quadros de guerra em África 85 mil militares, respectivamente cerca de 52 mil, em Angola, 18 mil, em Moçambique e 15 mil na Guiné. Em 15 de Outubro de desse ano, o DL n.º 45 308 considerou puníveis, como em tempo de guerra, os crimes previstos na legislação penal militar praticados nas «províncias ultramarinas», enquanto nelas decorressem operações militares ou de polícia destinadas a combater determinadas perturbações ou ameaças.
Os jovens portugueses eram obrigados a cumprir o serviço militar, que durava entre dois a quatro anos, incluindo a recruta e uma comissão de serviço de cerca de dois numa colónia africana em guerra. Alguns deles não compareceram à inspecção ou tornaram-se refractários ou desertores, saindo clandestinamente do país, a caminho do exílio.
- Uma informação da delegação de Coimbra da PIDE/DGS deu conta que, em 1971, muitos «mancebos» de todas as classes sociais não tinham levantado as guias de marcha para se apresentarem nas unidades de incorporação.
- Por seu turno, o próprio EMGFA afirmou, em Maio desse ano, que 25% do total de recenseados faltavam ao cumprimento do serviço militar.
- Segundo números oficiais divulgados em Maio de 1974 teria havido, durante os treze anos de guerra, entre cerca de 110 a 170.000 jovens faltosos ao serviço militar, refractários e desertores.