As perdas de nomes importantes da imprensa sempre são notícia e tocam especialmente os jornalistas. Se não podemos trazer de volta Fernando Jordão, Dines, Audálio e outros como eles, devemos replantar e fazer renascer o jornalismo que eles representam.
[Transcrição]
As perdas de nomes importantes da imprensa sempre são notícia e tocam especialmente os jornalistas.
Como sempre acontece no Brasil, onde a morte zera qualquer disputa política ou ideológica, essas perdas são devidamente choradas por todos.
Inclusive os fariseus, que não se cansam de combater e obstruir alguns dos falecidos, quando eles ainda estão vivos.
Qualquer colega que se vai faz falta, mas o desaparecimento de três deles - todos na faixa dos 80 anos - tem um significado especial.
Carregou-se de simbolismo, ao transcender a morte física para expressar também o fim de uma era do jornalismo.
Em setembro do ano passado, foi-se Fernando Pacheco Jordão, um dos grandes do telejornalismo brasileiro.
Com ele se foi um tempo em que o noticiário de televisão se norteava pelo interesse público e batalhava para trazer ao debate todas as visões da sociedade, todas as correntes de opinião. Mesmo com censura e repressão da ditadura militar.
Hoje o que predomina é o telejornalismo de conveniência patronal, a máquina de produção de “narrativas” para derrubar governos indesejados e maquiar os horrores sociais da política econômica desejada.
Na semana passada, foi-se Alberto Dines, outro obstinado combatente da liberdade de imprensa e um pregador da ética, da responsabilidade e da qualidade editorial no jornalismo.
Ele foi um pioneiro na crítica de mídia no país, que exerceu por bom tempo dentro da própria mídia corporativa.
Depois foi alijado dela, resistiu na mídia pública e na internet, e agora deixa praticamente vago esse papel, numa imprensa abarrotada de apologistas da notícia como produto de mercado, e de defensores dos interesses político-empresariais dos patrões.
Agora, nesta semana, foi-se Audálio Dantas, um dos maiores líderes sindicais que os jornalistas já tiveram, além de magnífico repórter e escritor.
Sua morte simboliza o falecimento da união dos profissionais do jornalismo em defesa de seus direitos trabalhistas e, em boa medida, da própria ideia de constituírem uma categoria profissional organizada e mobilizada.
Vige, ao contrário disso, o conceito de que sindicalismo é coisa atrasada, porque não haveria mais trabalhadores da notícia, explorados como quaisquer outros.
Haveria apenas empreendedores, empresários da própria força de trabalho, esse conceito neoliberal que consagra o individualismo e destrói a identidade de classe.
Certamente não faltam consultores, “couches”, aspones e teorizadores para celebrar o passamento de tudo isso que morre com os grandes mestres, e abominar o jornalismo exercido como missão social.
Sempre houve e sempre haverá os porta-vozes da conveniência empresarial.
O que interessa, aos conscientes, é trabalhar pela ressurreição do que vai morrendo com veteranos.
Se não podemos trazer de volta Fernando Jordão, Dines, Audálio e outros como eles, devemos replantar e fazer renascer o jornalismo que eles representam.