De olho nas eleições em 2022, o presidente Jair Bolsonaro já começou a empenhar o espaço que se abrirá no teto de gastos no próximo ano com promessas de maiores benefícios sociais e reajustes a servidores. Só a ampliação do Bolsa Família deve elevar o gasto em ao menos R$ 18,7 bilhões, enquanto um aumento de 5%, por exemplo, para os salários do funcionalismo pode gerar uma fatura extra de R$ 15 bilhões. Resultado: a soma desses valores já supera o espaço adicional no ano que vem, estimado pelo próprio governo em R$ 25 bilhões.
Se hoje as demandas já são maiores do que o dinheiro disponível, o cenário pode se complicar ainda mais. Caso a inflação não desacelere no segundo semestre, a folga no Orçamento ficará ainda menor.
Hoje, a previsão é que o governo se beneficie de um "descasamento" entre índices de inflação. O teto de gastos, que limita as despesas, é corrigido pelo IPCA acumulado em 12 meses até junho. Esse indicador registra alta de 8,06% até maio. Já as despesas do governo sobem pelo INPC, cujas previsões oscilam hoje entre 5,5% e 6,5%.
Se a inflação continuar elevada até o fim do ano, porém, o valor disponível encolhe. O principal fator de risco para isso é a conta de luz. Diante da seca histórica, que ameaça o abastecimento de energia, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve aumentar em mais de 20% o valor da bandeira vermelha 2, o patamar mais alto de cobrança extra nas tarifas. O reajuste bate direto na inflação, sobretudo no INPC, índice que capta os preços para famílias de menor renda - para as quais a conta de luz pesa mais no bolso.
Previsões
O espaço de R$ 25 bilhões foi indicado pelo secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, em entrevista no último domingo. A previsão, porém, é tida como conservadora pelo mercado. Há a avaliação de que já existe uma tentativa da equipe econômica de controlar expectativas e conter a sede por gastos em ano eleitoral.
Enquanto isso, Bolsonaro sinaliza mais gastos e afirmou na terça-feira passada que a reformulação do Bolsa Família pagará, em média, R$ 300 a partir de dezembro deste ano. O anúncio surpreendeu o próprio governo, que trabalhava até então com o valor médio de R$ 250 e um aumento na despesa de R$ 18,7 bilhões.
Bolsonaro tem acenado com outras medidas populares do lado das receitas, como o aumento da faixa de isenção do IR, hoje em R$ 1,9 mil, e um programa de refinanciamento de dívidas tributárias de empresas.