Desastre na Ferrovia Leopoldina (Desdobramentos - 1937)
UMA TRAGEDIA
Um dos nossos articulistas Já focalizou, em impressionante cronica, a infelicidade que surpreendeu Hilda, a pequena filha de uma familia soterrada pelas barreiras, que se despejaram sobre a linha da Leopoldina. Ainda cabe, no entanto, uma referencia ao fato. Essa referencia nos foi fornecida pelo sr. Joaquim Tavares da Rocha, um dos cavouqueiros em serviço de desobstrução da es- trada. A esse homem que, em um momento de alucinante acontecimento, salvou, demonstrando o valor da solidariedade humana, a pequena Hilda, o "Diario" ouviu descrever a tragedia. Disse.nos ele simplesmente, sem enfase, mais ou menos o seguinte:
"Acordel no meio da noite, com um vento frio. Foi ele quem me acordou. Pensei a principio que fosse uma janela que se tivesse aberto, Quando me levantel des. cobri que havia caido uma das paredes da minha casinha, Agarrei minha mulher e meus dois filhinhos pequenos e sal para chamar o meu vizinho Manoel Medeiros Campos. Já havia sido derrubada a casa dele, que estava debaixo de um monte de barro.
Uma creança se mexia na lama. Segurei-a com a mão em que prendia o meu filho, e assim os levei até a casa da turma. Esperei que a chuva cessasse um pouco voltando com companheiros ao logar, onde estava a casa, cavamos e conseguimos tirar o corpo do pae de Hilda.
A mãe dela e a outra creança Já estavam mortas. Manoel ainda não. Da cintura para baixo o corpo estava todo amassado. Ainda viveu trez horas.
Antes de morrer, chamou o pae para que lhe desse a benção e pediu que trouxesse Hilda para a abençoar. Foi isso o que aconteceu. Nessa linguagem simples, estoicamente,, nos narrou a tragedia de que fora protagonista. Com a mesma conformação que estava no trabalho, pegado ao cabo de uma enxada, de sol a sol...