Na leitura do último episódio, Brás conta sobre os dias em que passou na casa da família, na Tijuca, sozinho a refletir sobre a morte da mãe. Ele encontra D. Eusébia e conhece a filha dela, Eugênia.
Nesse fragmento aparecem algumas borboletas. A borboleta de asas de ouro e olhos de diamante que Brás imagina voando dentro da cabeça de Eugênia, as duas borboletas negras que invadem, primeiro a casa de D. Eusébia, depois o quarto dele, e que segundo as mulheres são sinal de mau agouro. Esses aparecimentos das borboletas são fatos que desencadeiam no Brás reflexões subjetivas. A figura da borboleta parece servir como metáfora para nos revelar algo que não está sendo dito.
Há também referências a cores nesses capítulos. Brás associa amarelo à hipocondria, azul a algo positivo. Há alusão à cor da casa em que moram D. Eusébia e Eugênia, que Prudêncio diz que mudaram pra uma casa roxa. Brás diz que se a borboleta negra que entrou no quarto fosse azul, que talvez não tivesse morrido, mas como era negra, foi arrebatada por uma toalha.
A lembrança do defunto desse dia em que entra uma borboleta preta no seu quarto, voa ao redor do corpo dele, pousa em sua testa e depois vai pousar no retrato do seu pai, pode fazer referência a alguns fatos: à crueldade do homem que se julga o dono do espaço, à arrogância desse mesmo homem, branco e privilegiado, que se julga o inventor da borboleta, ao desprezo pelo outro, ao racismo, ao sentimento de superioridade em relação ao outro.
Lembra que as borboletas estão inseridas no episódio em que Brás trava conhecimento com Eugênia, de quem ele sente certo desprezo porque é filha ilegítima e porque é manca. E quem avisa Brás da existência de Eugênia é o escravo Prudêncio que, assim como a borboleta, é negro e entra no quarto dele com a informação da mudança de D. Eusébia para uma casa vizinha e, com isso, leva Brás a fazer reflexões. Logo que mata a borboleta preta, ele sente arrependimento, mas não demora muito que se reconcilie consigo mesmo. Assim como aconteceu com o almocreve, Brás é rápido em desculpar o próprio comportamento, em julgar que agiu bem.
E que justificativa Brás Cubas usa agora pra ter praticado o mal, pra ter matado a borboleta? A justificativa é a cor da borboleta. Ela morre porque é preta. E, sendo preta, tudo bem matar a borboleta! (até rimou!) Ele se exime de sua maldade dizendo que a culpa por ter sido morta é da borboleta, que não tinha nascido azul. Será que a gente pode fazer alguma associação à cor de pele dos escravos, que viviam apanhando, sendo mortos pelos homens brancos que se julgam superiores, e ao ditado de que os nobres têm sangue azul? Se era essa a intenção do autor, ele arremata o argumento com uma ironia, pois diz que mesmo a borboleta azul teria um fim trágico, seria espetada por um alfinete pra ser exposta por sua beleza.